Chuva de outono




Ai ... Esse barulho de chuva caindo e respingando na janela, numa manhã ainda quente de outono, me traz tantas lembranças ...
A lembrança daquela chuvinha fina caindo sobre a terra, que vai ficando molhada bem devagarinho, vai bailando sobre a vidraça da janela e desenhando uma atmosfera tão preguiçosa, aquela preguiça gostosa de ficar embrulhadinha nas cobertas, esperando a temperatura cair aos pouquinhos, ligar a televisão e não pensar em nada, assistir desenhos dos tempos de criança, curtir as doces lembranças que afloram.
Vontade de não sair pra nada, apenas contemplar o momento e se deliciar nas lembranças.
As lembranças dos dias de chuva quando criança, aquela que a gente fugia pro quintal pra se molhar, mexer na terra molenga, sentir a liberdade do subir na árvore e ouvir lá no fundo a vó gritar “menina desce daí, você vai cair e se machucar” ou a mãe reclamar “você vai se resfriar”, quem liga pra essas palavras, gostoso é se lambuzar naquele chão lamacento, derrubar os amigos e aproveitar, o pique do pega-pega onde todo mundo escorrega na lama, aquele dia fresquinho, que a chuvinha fina vai tecendo de alegria nas brincadeiras e peraltices da garotada.
Alegria no cheirinho gostoso que vem da cozinha, chocolate quente, banana com canela, bolo de cenoura ou o top de todos: bolinhos de chuva, daqueles bem fofinhos que derretem na boca, mamãe fazia iguais aos da tia Nastácia lá do Pica-pau Amarelo.
Tão gostoso esse sabor de infância que a chuva desta manhã refutou, trouxe no meu peito a lembrança doce do tempo, sem medo de tempestades da alma ou dos tormentos do coração, das aflições, das ansiedades deste mundo moderno do caos.
É muito bom a gente se entregar na memória, reproduzi-la num mini filminho da nossa história, enriquecendo a alma de carinho, brilho do olhar, sentir aquele abraço gostoso da mãe sobre a toalha depois de um banho gostoso, ou no beijinho de boa noite, que a gente nem lembra se realmente existiu daquela forma, mas a memória recriou com alegria essa história.
Ai ... como eu queria essa lembrança em mim todo dia, pra ao acordar me fortalecer e me ouvir dizer na frente do espelho, sem medos e segredos, “Bom dia, doce menina, esse mundo é seu, vai lá explorar!” ...(Telma Gomes)

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

AMOR